Crítica: Todo Dia a Mesma Noite
“Todo Dia a Mesma Noite“, da Netflix, faz com cautela e delicadeza uma memória para as 242 pessoas que tiveram suas vidas encurtadas.
A abordagem da Netflix mescla um pouco os acontecimentos reais com uma liberdade de adaptação. Isso por que, apesar do foco ser os pais e pós tragédia, ainda temos relatos dos jovens. Sejam daqueles que sobreviveram, do contato pelos pais ou uma dramatização para adaptação. É também baseado em um livro, de mesmo nome.
As histórias dos jovens que morreram e as reações aqui ganham um ar além do outro documentário. Sendo assim, ganhamos também uma trama envolvendo os causadores, baseado no descrito no processo. Aqui, de certa forma, vemos que a ganância acaba se sobressaindo. Isso vai desde o bloqueio dos seguranças, que por cerca de um minuto impediram a saída dos jovens, pois eles teriam que pagar a comanda, até a “lei da oferta e procura” que fez com que os velórios na cidade ficassem absurdamente mais caros. Sempre há quem lucre com tragédias, mas algumas vezes só vemos mais claramente.
O diferencial também é o foco em um dos momentos mais questionáveis. Afinal, o Ministério Público acabou indiciando apenas 4 pessoas, de forma mais firme. Sendo que há provas do envolvimento de funcionários públicos na liberação de alvarás de funcionamento, sendo que estava escancarado as irregularidades. Não haviam saídas de emergência, as janelas foram tampadas e já era sabido do risco pela espuma inflamável. Mesmo com todas as multas e irregularidades, a boate funcionava normalmente.
“Todo Dia a Mesma Noite” tem uma fala das mais fortes. Em um momento, um pai diz que fazendo as devidas contas, o preço da vida de cada uma das vítimas é de R$ 0,20.