Crítica: Do Sul, a Vingança
“Do Sul, a Vingança” chega com o honroso título de ser o primeiro longa de ficção totalmente rodado em Mato Grosso do Sul. Um marco, sem dúvida. Pena que o filme, por si só, não acompanha essa grandiosidade — e, sinceramente, nem parece tentar.
A história (ou o rascunho de uma) gira em torno do escritor Lauriano, que, na busca por uma nova inspiração — aparentemente perdida junto com o orçamento — acaba envolvido em uma teia de crimes e conspirações. A premissa até tenta soar como um thriller político, mas o filme rapidamente se transforma em uma confusão de gêneros: começa como um policial barato, escorrega para uma comédia e, do meio para o fim, vira uma mistura de Gauchês com cosplay de Power Rangers. É miliciano com político, bandido com sotaque regional e atuações que fariam novela mexicana parecer Shakespeare.
Tecnicamente, o filme é… artesanal. Isso, digamos assim. E embora seja de baixo orçamento — ou apenas mal gasto, considerando os 12 anos de produção — ele lembra aquelas produções independentes feitas com três câmeras e muita boa vontade (alô certas produtoras de BH). Mas ao contrário dessas, que ao menos garantem risos espontâneos, aqui o riso vem da incredulidade mesmo.
Agora, justiça seja feita: dá pra ver o orgulho da equipe, o amor pelo projeto, o suor. E talvez algumas lágrimas. Há um esforço genuíno em mostrar que o cinema sul-mato-grossense existe. E ele existe. Só não precisava ser apresentado ao mundo dessa forma.
No fim das contas, “Do Sul, a Vingança” é um daqueles filmes que você termina com duas certezas: a primeira é que teve coragem. A segunda é que você teve coragem de assistir até o final. E isso, por si só, já é uma experiência cinematográfica — não boa, mas definitivamente inesquecível.
Texto por Filipe Coelho